sábado, 12 de novembro de 2011

ALAMEDA DAS ROSAS, 879

- Jean Paul...! Vem tomar banho!
Era o grito de Paule, irmã mais velha de Jean, nosso vizinho.
- Já estou indo. Falta só um gol para terminar.
- Vem agora, senão chamo minha mãe!
Com este ultimato Paule acabara de inviabilizar a continuidade de mais uma exibição de gala dos craques da alameda das rosas. Num jogo de dois contra dois, a saída de um era fatal.
Nosso estádio era a calçada e nosso campo era feito de “golzinhos” com duas pedras de cada lado. Chuteiras? Nem pensar! Era descalço mesmo. Aliás, muitas vezes nossos chinelos de dedo se transformavam em traves, no lugar das pedras. E neste palco desfilaram grandes craques: Raul Bahia, Paulo Bahia, Jean Paul, Paulo Preto, Pedro Pepê, Elder Balestra, João da Marta e tantos outros que, mais que atletas ou adversários, eram grandes amigos que se sustentavam na difícil missão de fazer a travessia da infância/adolescência para a fase adulta.
O saudosismo normalmente é característica dos mais velhos. Então assumo minha idade avançada: que saudade...!!!
Todo dia, ao chegar da escola, corria para fazer as tarefas e poder sair na porta de casa para jogar bola com os amigos e vizinhos, que já estavam gritando do lado de fora.
Quando escurecia e não dava mais para enxergar a bola, iniciavam-se então as eternas discussões: “Roberto Dinamite é o melhor do Brasil!”; “que nada, ainda é o bigodudo Rivelino”; “é o Zico, e não se fala mais nisto!”
E os campeonatos de futebol de botões? Coisa séria, com regras pré-definidas, tabelas e horários estabelecidos. Cada um chegava trazendo seu time, dentro de um saquinho plástico, como se fosse o seu patrimônio de maior valor. E era! Dentro destes saquinhos trazíamos não só um time de brinquedo, mas também nossos sonhos de vida, que eram compartilhados de maneira fraternal e sadia.
Quando o dia era de vento, não podíamos perder a oportunidade de “soltar pipa”. E nisto éramos privilegiados. Como morávamos em frente ao Horto Florestal, não existiam prédios do outro lado da rua e, portanto, tínhamos todo espaço do mundo. É claro que sempre tinha alguém que conseguia enroscar a pipa em alguma árvore.
À noite, banho tomado, mais um pouquinho de conversa, agora com a participação também das meninas, destaque para as presenças constantes de Nara e Jacqueline.
Mas este saudosismo exacerbado é só para afirmar que apesar das grandes contribuições trazidas pelo desenvolvimento urbano e tecnológico, o padrão de relacionamento entre as pessoas mudou e, em meu entendimento, para pior. A relação com os vizinhos, que ia mais além do que um símbolo de amizade, ditando comportamentos e ajudando na educação e formação dos filhos, infelizmente perdeu esta conotação. Nos dias atuais, via de regra, os vizinhos deixaram de ser amigos e protetores, para se transformarem em intrometidos e fofoqueiros.
Felizes as pessoas que, como eu, viveram este tempo. Quem sabe ainda volta!!?
Um abraço ao Jean que, ao me adicionar no facebook, reavivou estas lembranças. Bons tempos!

3 comentários:

  1. Obrigado Grande Raul, obrigado de verdade, conseguiu me emocionar, acredite.

    Jean Paul

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  2. E o horário do jornal? Seu Santinho de pijama, sentado em seu banquinho em frente a TV e a criançada atrapalhando com a barulheira, pera, uva, maçã, salada mista...o fusquinha da vovó mãe da Dona Raulice, a Neide e suas quitandas, pique esconde a noitinha, a meninada da Dona Marta, e Raul cantando If you live me now, please don´t go, don´t gooooooo, rs,rs,rs temos muita coisa pra lembrar...bons tempos, vontade de reencontrá-los. Vamos marcar?

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  3. Ah! Meu tempo de criança, que tantas saudades me traz.
    Tempos em que as crianças se comportavam como crianças!!!
    Não havia nada com que se preocupar, apenas brincar, comer e dormir.
    Ia pra escola, mas minha cabeça estava o tempo todo pensando no recreio pra jogar bola (baba) e nas meninas da torcida cantando: "passou, passou, passou um avião e nele tava escrito que... é campeão”.
    Chegava em casa e minha única preocupação era resolver qual seria a próxima brincadeira: Andar de bicicleta, jogar tênis, jogar papel higiênico molhado pela janela, brincar de policia e ladrão, brincar de pogobol, andar de skate, brincar de jacaré na piscina, lavar o carro do pai e depois ficar andando pela garagem (com 14 anos), botar o rádio no play e ficar curtindo como se fosse a melhor festa do mundo, jogar gude, jogar gol a gol, jogar bola mais uma vez, etc
    Mas criança é boba, quer crescer.
    Fico pensando o que há de atrativo em crescer? Bom mesmo é ser criança. Porque criança tem esperança.
    Tempo que tanta alegria me traz.
    Tudo era uma grande festa.
    Tempo que não volta mais
    Se eu pudesse parar o tempo;
    Seria exatamente ali, no meu tempo de inocência.
    Ai talvez, não teria conhecido o coração mau, de alguns seres humanos.
    Nem a intolerância entre os povos.
    Quando crianças éramos todos iguais, sem diferenças, sem preconceitos,
    éramos todos unidos, como uma grande família.
    Quando criança tudo era paz e felicidade.
    Que pena que o tempo passou, e o mundo que conheci mudou.
    Sinto saudades, da mais pura felicidade!
    Ass: Bruno Bahia Silva Lannes

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