domingo, 27 de novembro de 2011

DIÁLOGO EM 7 DÉCADAS

1937
- Santinho, vem jogar bola!
O grito ecoou pela vizinhança da rua, na pequena cidade de Ipameri, interior de Goiás.
Santinho era o apelido de Domingos, filho único do dentista prático da cidade, seo Tonico, e de dona Docinha. Começando a adolescência, já demonstrava grande interesse por duas coisas: futebol e em seguir a carreira profissional do pai.
- Já vou! Só vou ao quintal avisar minha mãe.
- Não esquece a bola!
- Aquela de meia? Já estragou toda. Não tenho mais.
- Que droga! Ainda vou comprar um monte de bolas de cobertão. E vou ser jogador de futebol!
Meu pai disse que lá na capital já tem um time que pretende jogar até contra os times do Rio de Janeiro e de São Paulo. Acho que o nome é Atlético.
- É mesmo? Será que um dia a gente vai poder assistir a um jogo deles?

Quatro anos antes, tendo a frente o Interventor Pedro Ludovico Teixeira, havia sido fundada a nova Capital de Goiás, que se transformaria numa das mais lindas cidades brasileiras: a bela Goiânia, palavra derivada do termo Tupi-Guarani goiá, que significa gente da mesma raça, da mesma tribo, gente semelhante. E que gente bonita! Não é por acaso que é considerada a cidade das mulheres mais bonitas do Brasil!

1944
- Ontem foi a decisão do primeiro campeonato goiano de futebol. Finalmente, depois de várias tentativas, conseguiram organizar e realizar o certame.
- E quem ganhou?
- Adivinha! Claro que foi o Atlético Goianiense. E o Ari ainda foi o artilheiro do campeonato. O time chapa branca do Goiânia, nunca pensava que ia perder! E você não vai acreditar! O técnico Orlando Feresin, que já tinha o Pixo no time, colocou para jogar o outro filho dele, o Dido, com apenas 17 anos, e que fez dois gols.
 - Imagina como devem estar felizes os irmãos Alberto e Afonso Gordo, o Edson Hermano, o João de Brito Guimarães, o João Batista Gonçalves, o Ondomar Sarti, o Benjamin Roriz , e os demais que participaram da fundação deste time. O Atlético é o orgulho da nossa Campininha!
- É verdade. Somos todos atleticanos! Viva o Dragão!

O local escolhido para a construção de Goiânia foi uma área ocupada pela cidade de Campinas.
E como sempre acontece quando se juntam comunidades diferentes num mesmo espaço, surgiu uma grande rivalidade entre Goiânia e o agora bairro de Campinas. E como era de se esperar, a rivalidade foi transferida para o futebol. Assim, durante quase 30 anos, perdurou a rivalidade entre Atlético, representante da Campininha, e o Goiânia Esporte Clube, que recebia todo o apoio financeiro e estrutural do estado, motivo pelo qual era considerado o time dos funcionários públicos. Ao contrário, o Atlético se sustentava através das doações de seus adeptos, sendo o principal deles o emérito torcedor Antonio Accioly, que doou o terreno da atual sede do Dragão. 

1957
- Que felicidade! Quem diria que nós iríamos ver o Atlético fazendo história? Lembra da gente guri em Ipameri? Agora vendo o Dragão se tornar Campeão Invicto!
- É nosso quinto título. O título de 55 já foi memorável, com as atuações fantásticas do Epitácio, que comandou nosso time no mais longo e mais disputado de todos os campeonatos. Mas este é especial, pois foi Invicto! Chora concorrência!

Nos anos de 1960, devido a construção de Brasília, Goiânia experimentou uma era de grande desenvolvimento. A antiga rivalidade entre o centro e o bairro de Campinas foi perdendo força e deu margem ao crescimento de dois clubes até então meros coadjuvantes: o Goiás, representante de uma emergente burguesia comercial e industrial, e o Vila Nova, preferido dos operários e migrantes que participaram da construção da capital federal. Consolidava-se assim mais uma luta de classes.

1970
- E aí, Santinho? Mais um título, hein! E, para ficar melhor, em cima do Vila Nova.  O Pito Marinari deve estar doente... Ha, ha, ha...!
- É o sétimo. Tiramos um caroço da garganta! Estava engasgado até hoje com a perda do campeonato de 67 para o Crac. E que campeonato fez o Dádi! Agora podemos gritar de novo: DRAGÃO CAMPEÃO!

1971
- Como sempre somos os primeiros! Primeiro time goiano a conquistar um título de âmbito nacional. Somos os grandes campeões do Torneio da Integração Nacional. Que final eletrizante contra a Ponte Preta, hein?
- Pois é! Foram 16 equipes de vários estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraíba, Paraná, Bahia, Pernambuco, Ceará, Amazonas e Maranhão. Um verdadeiro campeonato brasileiro. E deu Dragão!

1985
- Enfim um campeonato ganho em cima do Goiás! O primeiro no Serra Dourada.
- E como sempre, o Goiás ainda tentou ganhar no tapetão. Aliás, eles já tinham garfado o campeonato de 83, contra a Anapolina. Mas desta vez, não teve jeito. Mais um título rubronegro!
E ainda tivemos o Bill “bola branca” como artilheiro!

Pelo Atlético passaram os principais goleadores do estado, como, Ari, Dido, Tarzan, Fábio, Dádi, Bill, além do maior recordista de gols da história dos campeonatos goiano: Baltazar, o Artilheiro de Deus, que posteriormente brilhou no Grêmio e no Atlético de Madri.

1990
- Há quanto tempo, Santinho! Acho que a última vez que nos vimos foi na decisão de 1988, quando ganhamos mais um campeonato goiano.
- Foi mesmo. Lá em Anápolis. Foi bonita a festa. Lembra da BR 153 tomada de carros com bandeiras rubronegras?
- Se lembro! E agora, mais uma vez saímos na frente: somos o primeiro time de Goiás a ganhar um campeonato brasileiro da série C.

Após este título, uma seqüência de erros administrativos levou o clube a passar por enormes dificuldades, que culminou com a demolição parcial do Estádio Antônio Accioly e a triste queda para a segunda divisão em 2003. Mas com a luta de abnegados, o imortal rubronegro da chacrinha, qual fênix, ressurgiu das cinzas. Valdivino de Oliveira, Maurício Sampaio, Marco Antônio Caldas, Adson Batista, Serjão Cruz, dentre outros, foram os principais responsáveis pelo soerguimento desta legenda do futebol goiano, reconstruindo o estádio Antonio Accioly, retornando à elite do goianão e subindo meteoricamente para a série A do brasileirão.

2007
- Que emoção! Eu já achava que morreria sem ver o Atlético campeão novamente. Mas aquele golaço do Anailson acabou com a agonia de dezenove anos sem título. Acho que não morro mais do coração!
- E que jogador, este Anaílson! E esta final tinha que ser mesmo contra o Goiás. Afinal, ninguém agüentava mais a prepotência e a soberba dos mochés.
- Mas agora começamos uma nova era. Afinal, quem é imortal é o nosso rubronegro!

2009
- 21 de novembro de 2009. Esta data agora faz parte da história do Atlético. Estamos na série A do brasileirão.
- Quem diria! Depois de quase extinto, esta recuperação fantástica. Estou ficando mal acostumado...
- Bem acostumado, você quis dizer, né? De 2007 para cá, só temos motivos para comemorar. Campeões goiano mais duas vezes, campeão brasileiro da série c mais uma vez, e agora esta grande conquista: estamos na elite do futebol brasileiro.
- É verdade! E o Raul, meu filho que mora em Porto Alegre, profeticamente tinha afirmado que isto iria acontecer lá no Rio Grande do Sul.
- Eu me lembro. Boca santa!
- Acho que o único que acreditou foi meu neto atleticano, o Paulo Jr. Ele foi para Porto Alegre e juntamente com o Raul, a esposa e a filha, viajaram para Caxias do Sul e, tirando os dirigentes, foram os únicos atleticanos presentes no Alfredo Jaconi.
- Fiquei sabendo. Eles levaram até bandeiras, não foi?
- Sim. Eu fiquei preocupado, pois eles fizeram questão de ir uniformizados e com bandeiras. Mas o Serjão, diretor do Atlético, solicitou ao presidente do Juventude que garantisse proteção, e tudo deu certo.
- Deve ter sido emocionante.

Em 2009, quando foi divulgada a tabela da série B daquele ano, percebi que o penúltimo jogo do Atlético seria aqui no Rio Grande do Sul, na cidade de Caxias do Sul. Desde então, comecei a convidar alguns parentes e amigos atleticanos a vir assistir esta partida, afirmando que o nosso acesso à série A se daria aqui. E coincidentemente, isto aconteceu.

2011
- Depois de mais conquistas, com o bicampeonato goiano 2010/2011, e da continuidade na série A, acho que precisamos alçar vôos maiores, você não acha?
- Claro! E podemos começar classificando para a disputa da copa sulamericana. Seria o primeiro torneio internacional que o Dragão participaria.
- Seria bom que isto ocorresse em Porto Alegre. Teu filho dá sorte. Aí ele poderia mudar para Tóquio, para também dá sorte na final do mundial, no ano seguinte.
- Maktub!

sábado, 19 de novembro de 2011

APRENDENDO A APRENDER

Aprenda a aprender! Este é o lema dos pedagogos defensores do construtivismo, para quem a finalidade da prática pedagógica é auxiliar o aluno a realizar aprendizagens por si mesmo. Nesta ótica, o aluno se torna responsável pela construção de seu conhecimento.
Vantagens alardeadas pelos seguidores desta corrente: maior autonomia intelectual, liberdade de pensamento e de expressão e, profissionalmente, maior empregabilidade.
Sou um dos defensores desta filosofia, principalmente por entender ser esta a melhor forma para tentarmos acompanhar a velocidade do desenvolvimento tecnológico, que traz consigo a demanda absurdamente crescente por mão de obra qualificada. Pero, como todo en la vida, hay que tener cuidado con las exageraciones.
Não podemos ser radicais a ponto de desprezarmos a aprendizagem decorrente da transmissão de conhecimentos, principalmente se feita por quem detenha conhecimentos desenvolvidos e que agregam valor social. Não seria muito inteligente prescindirmos do conhecimento social e científico existentes.
 Não resta a menor dúvida que a educação deve capacitar as pessoas para atender a um mundo empresarial e uma sociedade em permanente transformação, que tornam os conhecimentos cada vez mais provisórios. Como se fosse alimento perecível, o conhecimento está com prazo de validade cada vez menor.
Isto significa que o profissional que não se atualizar estará condenado ao desemprego.
Aí, algo me chama a atenção: será que este tipo de educação não seria mais uma forma de atender à insaciável “fome” da sociedade capitalista?
Assim, mesmo reconhecendo o “aprender a aprender” como um diferencial na selvagem competição por emprego, não posso deixar de alertar para a importância de uma educação voltada também para as transformações sociais.
E, se no primeiro caso a construção do próprio conhecimento é imprescindível, no segundo caso não podemos abrir mão da transmissão dos ensinamentos daqueles conhecedores da realidade social.
Educação, sempre!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

VIVA A REPÚBLICA! MAS, POR QUÊ?

15 DE NOVEMBRO – Data da Proclamação da República. Feriado nacional e dia para recordarmos os heróis republicanos.
Mas estamos comemorando exatamente o quê? Por que este acontecimento é tão importante para nós? Qual a vantagem disto?
Primeiro precisamos entender o que é uma República. Em resumo, trata-se de uma forma de governo onde teoricamente o poder emana do povo, que elege seus representantes. Opõe-se à Monarquia, onde o Chefe de Estado não é eleito, pois, neste caso, o poder derivaria de uma fonte divina.
Numa análise inicial, acho que a grande maioria entende ser a República uma melhor forma de governo, se comparado à Monarquia, pelo simples fato de possibilitar a participação popular na escolha de seus governantes.
Mas a forma republicana de governo basta para que o Estado cumpra com suas obrigações?
A existência do Estado só se justifica pela ação em prol de seus cidadãos. Portanto cabe ao Estado garantir os direitos naturais para todos eles. E a forma de governo é o meio para se atingir este objetivo.
Ainda acho que a forma republicana continua sendo o meio mais adequado para isto, porém, a realidade não cansa de nos mostrar que o Estado continua bem distante das suas metas.
Políticos profissionais corruptos, crises econômicas, carga exagerada de impostos, ingerências das forças econômicas e das grandes organizações, dentre outros fatores, fazem com que o mandatário maior deixe de ser o Presidente de todos para se transformar no Presidente dos grupos que lhe dão apoio.
Quando isto ocorre, a República deixa de cumprir com suas atribuições, muitas vezes se colocando em níveis abaixo de países monarquistas.
Portanto, mais do que comemorarmos a nossa forma de governo, mister se faz exigirmos o cumprimento das obrigações inerentes ao Estado, de forma que a República seja o sustentáculo dos direitos de todos os cidadãos.

sábado, 12 de novembro de 2011

ALAMEDA DAS ROSAS, 879

- Jean Paul...! Vem tomar banho!
Era o grito de Paule, irmã mais velha de Jean, nosso vizinho.
- Já estou indo. Falta só um gol para terminar.
- Vem agora, senão chamo minha mãe!
Com este ultimato Paule acabara de inviabilizar a continuidade de mais uma exibição de gala dos craques da alameda das rosas. Num jogo de dois contra dois, a saída de um era fatal.
Nosso estádio era a calçada e nosso campo era feito de “golzinhos” com duas pedras de cada lado. Chuteiras? Nem pensar! Era descalço mesmo. Aliás, muitas vezes nossos chinelos de dedo se transformavam em traves, no lugar das pedras. E neste palco desfilaram grandes craques: Raul Bahia, Paulo Bahia, Jean Paul, Paulo Preto, Pedro Pepê, Elder Balestra, João da Marta e tantos outros que, mais que atletas ou adversários, eram grandes amigos que se sustentavam na difícil missão de fazer a travessia da infância/adolescência para a fase adulta.
O saudosismo normalmente é característica dos mais velhos. Então assumo minha idade avançada: que saudade...!!!
Todo dia, ao chegar da escola, corria para fazer as tarefas e poder sair na porta de casa para jogar bola com os amigos e vizinhos, que já estavam gritando do lado de fora.
Quando escurecia e não dava mais para enxergar a bola, iniciavam-se então as eternas discussões: “Roberto Dinamite é o melhor do Brasil!”; “que nada, ainda é o bigodudo Rivelino”; “é o Zico, e não se fala mais nisto!”
E os campeonatos de futebol de botões? Coisa séria, com regras pré-definidas, tabelas e horários estabelecidos. Cada um chegava trazendo seu time, dentro de um saquinho plástico, como se fosse o seu patrimônio de maior valor. E era! Dentro destes saquinhos trazíamos não só um time de brinquedo, mas também nossos sonhos de vida, que eram compartilhados de maneira fraternal e sadia.
Quando o dia era de vento, não podíamos perder a oportunidade de “soltar pipa”. E nisto éramos privilegiados. Como morávamos em frente ao Horto Florestal, não existiam prédios do outro lado da rua e, portanto, tínhamos todo espaço do mundo. É claro que sempre tinha alguém que conseguia enroscar a pipa em alguma árvore.
À noite, banho tomado, mais um pouquinho de conversa, agora com a participação também das meninas, destaque para as presenças constantes de Nara e Jacqueline.
Mas este saudosismo exacerbado é só para afirmar que apesar das grandes contribuições trazidas pelo desenvolvimento urbano e tecnológico, o padrão de relacionamento entre as pessoas mudou e, em meu entendimento, para pior. A relação com os vizinhos, que ia mais além do que um símbolo de amizade, ditando comportamentos e ajudando na educação e formação dos filhos, infelizmente perdeu esta conotação. Nos dias atuais, via de regra, os vizinhos deixaram de ser amigos e protetores, para se transformarem em intrometidos e fofoqueiros.
Felizes as pessoas que, como eu, viveram este tempo. Quem sabe ainda volta!!?
Um abraço ao Jean que, ao me adicionar no facebook, reavivou estas lembranças. Bons tempos!

sábado, 5 de novembro de 2011

MUDARAM A VELOCIDADE DE ROTAÇÃO DA TERRA

Socorro! Aumentaram a velocidade de rotação da terra! Eu só queria saber quem foi o sacana que fez isto...
Como é que eu sei que aumentaram? Está na cara! Eu sinto, você sente, todo mundo sente: o dia está ficando cada vez mais curto e, conseqüentemente, tem ficado cada vez mais difícil fazermos tudo que precisamos fazer num só dia. Aceleraram esta geringonça! Eu até desconfio de alguém, mas sem provas, prefiro não acusar...
Mas os cientistas garantem que isto não é verdade. As variações ocorridas seriam insignificantes e, portanto, imperceptíveis.
Então que raio de sensação é esta que tanto nos incomoda?
Na realidade, isto é apenas mais uma das conseqüências do estilo de vida imposto pela “sociedade do conhecimento”.
Ontem, lendo e analisando um comentário de meu guru Caio Lannes, em seu facebook, resgatei uma análise sobre esta questão. O tema abordado era o fato de o Brasil ter perdido o bonde do futuro devido à instrução deficiente de seu povo. Além de concordar com tal afirmação, pensei comigo: “e o pior é que mesmo quem teve instrução adequada, está ficando defasado em virtude da enorme velocidade das mudanças tecnológicas e da ineficácia das ações governamentais em relação à educação continuada”.
Sobressai daí a necessidade imperiosa de “aprendermos a aprender”, para que consigamos nos manter atualizados e produtivos.
Só que isto envolve um volume enorme de novos conhecimentos, de novas tarefas, de novas atividades e de novas metas. Antes, o conhecimento transmitido bastava. Hoje, é preciso estar sempre construindo novos conhecimentos.
Esta é a razão da sensação de “encurtamento do dia”.
Mas, por incrível que pareça, o tempo ainda mantém a “velocidade” de 60 minutos por hora.