domingo, 19 de agosto de 2012

PRECONCEITO E FALTA DE CONHECIMENTO

Diálogo em um bar de Porto Alegre:

- Boa noite! Tudo bem?
- Tudo...
- Você poderia me dar mais detalhes sobre este item do cardápio?
- Tu não é (sic) daqui, né?
- Não sou não. Eu sou goiano, por quê?
- Percebi pelo teu sotaque diferente.
- Eu não tenho sotaque diferente.
- Bah! Tu fala (sic) muito diferente dos gaúchos.
- Então quem tem sotaque diferente são vocês, ora bolas!

Esta conversa, verídica, espelha bem a tendência que as pessoas têm em supervalorizar os seus costumes. Até aí, tudo bem. Bastante louvável a disseminação e o respeito à nossa cultura e a nossas tradições. O problema aparece quando nos deixamos levar pelo preconceito.
Está na Wikipedia, a enciclopédia livre da internet:
“Preconceito (prefixo pré- e conceito) é um "juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discriminatória perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente”.
Gostar de algo, de alguém, de uma cultura, de um estilo, ou de qualquer outra coisa, é uma prerrogativa individual que pode e deve ser exercida sem nenhuma pressão. Mas isto não nos dá o direito de criticar gratuitamente e sem conhecimento, outras culturas e outros estilos.
Todo grupo social tem características próprias e o conhecimento destas características por pessoas de outros grupos é extremamente positivo. Todavia, e não raro, conhecimentos superficiais acabam levando a atitudes discriminatórias.
Um exemplo bem brasileiro: apesar do estrondoso sucesso da música sertaneja, em todos os níveis sociais, ainda assim constatamos um preconceito enorme por parte de uma parcela que se autointitula culta.
É evidente que, como qualquer outro genero musical, também constatamos muito “lixo” neste segmento. Porém, existem trabalhos dignos de elogios e que são consagrados numa verdadeira celebração popular, fato que, sem dúvida nenhuma, não é para qualquer um.
Se procurarmos conhecer mais a fundo as origens deste estilo musical, talvez ficaria mais fácil entender e, como consequência, deixar de lado o preconceito.
Originária da “roça”, a música caipira tinha como tema a vida no campo e, devido à limitação de recursos, utilizava instrumentos artezanais. Assim, tudo que era feito era simples e tinha como foco o público rural do Brasil.
Daí decorriam as melodias simples e as letras voltadas aos sentimentos básicos do ser humano.
Criticar isto seria o mesmo que criticar nossos avós por não terem utilizado as facilidades da internet.
Se hoje temos inúmeras facilidades, devemos boa parte disto às pessoas simples, do campo, que contribuiram e continuam contribuindo para o desenvolvimento do país e das pessoas.
E, como tudo na vida, as transformações são inevitáveis. Para atender a um público cada vez mais urbanizado, a música caipira foi se transformando na atual música sertaneja, tornando-se mais dançante e adotando temas mais urbanos, mantendo porém a simplicidade como característica básica.
Talvez isto explique o sucesso deste estilo junto às camadas menos favorecidas da população. Mas, e o sucesso nas outras classes, apesar do preconceito? Entendo que, além da simplicidade, os temas englobam sentimentos comuns a todos, independente da classe social.
E todos nós estamos sujeitos a amar, sofrer, ser feliz, ou experimentar qualquer outro sentimento.
Gostar é um estilo ( e estilo é personalidade).
Não gostar é um direito.
Valorizar a qualidade é sempre recomendável.
Discriminar preconceituosamente, é falta de conhecimento.




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