Diálogo em um bar de Porto Alegre:
- Boa noite! Tudo bem?
- Tudo...
- Você poderia me dar mais detalhes sobre
este item do cardápio?
- Tu não é (sic) daqui, né?
- Não sou não. Eu sou goiano, por quê?
- Percebi pelo teu sotaque diferente.
- Eu não tenho sotaque diferente.
- Bah! Tu fala (sic) muito diferente dos
gaúchos.
- Então quem tem sotaque diferente são vocês,
ora bolas!
Esta conversa, verídica, espelha bem a
tendência que as pessoas têm em supervalorizar os seus costumes. Até aí, tudo
bem. Bastante louvável a disseminação e o respeito à nossa cultura e a nossas
tradições. O problema aparece quando nos deixamos levar pelo preconceito.
Está na Wikipedia, a enciclopédia livre da
internet:
“Preconceito (prefixo pré- e conceito) é um
"juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discriminatória
perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou
"estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou
de um grupo social, ao que lhe é diferente”.
Gostar de algo, de
alguém, de uma cultura, de um estilo, ou de qualquer outra coisa, é uma
prerrogativa individual que pode e deve ser exercida sem nenhuma pressão. Mas
isto não nos dá o direito de criticar gratuitamente e sem conhecimento, outras
culturas e outros estilos.
Todo grupo social
tem características próprias e o conhecimento destas características por
pessoas de outros grupos é extremamente positivo. Todavia, e não raro,
conhecimentos superficiais acabam levando a atitudes discriminatórias.
Um exemplo bem
brasileiro: apesar do estrondoso sucesso da música sertaneja, em todos os
níveis sociais, ainda assim constatamos um preconceito enorme por parte de uma
parcela que se autointitula culta.
É evidente que,
como qualquer outro genero musical, também constatamos muito “lixo” neste
segmento. Porém, existem trabalhos dignos de elogios e que são consagrados numa
verdadeira celebração popular, fato que, sem dúvida nenhuma, não é para
qualquer um.
Se procurarmos
conhecer mais a fundo as origens deste estilo musical, talvez ficaria mais fácil
entender e, como consequência, deixar de lado o preconceito.
Originária da “roça”,
a música caipira tinha como tema a vida no campo e, devido à limitação de
recursos, utilizava instrumentos artezanais. Assim, tudo que era feito era
simples e tinha como foco o público rural do Brasil.
Daí decorriam as
melodias simples e as letras voltadas aos sentimentos básicos do ser humano.
Criticar isto seria
o mesmo que criticar nossos avós por não terem utilizado as facilidades da
internet.
Se hoje temos
inúmeras facilidades, devemos boa parte disto às pessoas simples, do campo, que
contribuiram e continuam contribuindo para o desenvolvimento do país e das
pessoas.
E, como tudo na
vida, as transformações são inevitáveis. Para atender a um público cada vez
mais urbanizado, a música caipira foi se transformando na atual música
sertaneja, tornando-se mais dançante e adotando temas mais urbanos, mantendo porém
a simplicidade como característica básica.
Talvez isto
explique o sucesso deste estilo junto às camadas menos favorecidas da população.
Mas, e o sucesso nas outras classes, apesar do preconceito? Entendo que, além
da simplicidade, os temas englobam sentimentos comuns a todos, independente da
classe social.
E todos nós estamos
sujeitos a amar, sofrer, ser feliz, ou experimentar qualquer outro sentimento.
Gostar é um estilo
( e estilo é personalidade).
Não gostar é um
direito.
Valorizar a
qualidade é sempre recomendável.
Discriminar
preconceituosamente, é falta de conhecimento.