sábado, 10 de agosto de 2013

EU SOU NEURÓTICO

Devido à sobrecarga de trabalho, acabei por reduzir a periodicidade de minhas postagens. E, quem mais sentiu esta redução, fui eu mesmo.

É curioso como esta prática acabou por se tornar uma atividade prazerosa. Então, numa pesquisa  introspectiva, procurei entender a origem deste prazer.

Em primeiro lugar, a satisfação se dá pela oportunidade que temos de aumentar nosso autoconhecimento, pois, devido à falta de contestação imediata, típica de diálogos, há uma inevitável busca interna de argumentos e conhecimentos que possam sustentar a opinião externada, e/ou que deem qualidade ao texto.

Além disto, não existe momento mais apropriado para nos desnudarmos intelectualmente, externando nossas opiniões sem receios, repetindo, construindo ou desconstruindo conceitos. Os textos nos dão a oportunidade de expressarmos sentimentos, valores, ressaltar boas práticas e nobres atitudes, obrigando-nos a uma constante autoavaliação, pois, não raro, nos descobrimos agindo de maneira diversa.

Mas não basta ter prazer. É preciso também dar prazer. Isto quer dizer que o escritor precisa seduzir o leitor, de forma que ele sinta satisfação em ler. Como dizem os especialistas, a obra depois de pronta não pertence mais ao autor, mas sim ao leitor, que dá o sentido de sua percepção. Os olhos do leitor não são os do autor.

Para tanto, além de uma leitura agradável, dois aspectos contribuem para um maior interesse: a conformidade com o pensamento do leitor ou o desconforto que o faz reavaliar valores.

Transitar por estes terrenos parece ser coisa de maluco. Como atuar em conformidade com a cultura vigente e ao mesmo tempo induzir à reavaliação de valores culturais?

Difícil é, porém é muito prazeroso.

Não é a toa que o brilhante escritor francês Roland Barthes, em seu livro “O Prazer do Texto”, afirma que “todo texto é frígido, como é qualquer procura, antes que nela se forme o desejo, a neurose... mas este último recurso é o único que permite escrever”.

Para Barthes, todo escritor seria neurótico. Então, assim seja.

 

“Todo escritor dirá então: louco não posso, são não me digno, neurótico sou.”

                                                                                              Roland Barthes

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