sábado, 4 de fevereiro de 2012

EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E PAMONHA

Mais um fenômeno propiciado pela rede mundial. A sensação do momento na Internet chama-se Salman Khan, um matemático e engenheiro eletricista de apenas 35 anos, que está “revolucionando” a educação através da produção de vídeos com aulas expositivas, disponibilizando-os de graça pelo site WWW.khanacademy.org.
Por suas aulas virtuais já passaram mais de 4 milhões de alunos que assistiram mais de 115 milhões de lições, contidas em 2700 vídeos, abordando mais de quarenta áreas do conhecimento. E sua meta é prá lá de ousada: pretende cobrir todos os assuntos, sempre de graça.
Pessoas e instituições do mundo inteiro estão aderindo ao “método Khan”. No Brasil as aulas estão sendo traduzidas para o português pela Fundação Lemann e disponibilizadas no Site WWW.fundacaolemann.org.br/khanportugues.
Mas, qual é o segredo de tanto sucesso? Qual a fórmula encontrada por este americano que está atraindo os jovens para uma prática que geralmente eles costumam ser resistentes?
Ainda sem emitir nenhum juízo de valor, posso dizer que os principais aspectos atrativos de suas aulas são a simplicidade da abordagem, o bom humor na apresentação e uma linguagem acessível com exemplos do dia-a-dia. Através deste verdadeiro ovo de Colombo, Khan sai da mesmice e diminui a chatice das aulas.
Agora já dando os meus pitacos, entendo que tudo que vem em busca de inovação e oxigenação da área Educacional é sempre bem vindo, desde que atenda as necessidades mínimas de aprendizagem. Vejo com muito bons olhos a simplificação de assuntos áridos, deixando os estudos com maior profundidade para quem for se especializar. Mas não podemos deixar de levar em consideração que um dos objetivos principais do processo ensino/aprendizagem é de desenvolver o raciocínio.
Aí vejo dois aspectos nesta nova proposta: um positivo e outro negativo. O positivo é que, facilitando o entendimento dos conhecimentos básicos, fica também mais fácil associá-los à realidade e à prática cotidiana, propiciando uma maior absorção do conhecimento.
Já como aspecto negativo, destaco a falta de interação com o professor, repetindo e eternizando a prática unidirecional das aulas expositivas.  A interatividade, na minha opinião, é uma arma poderosa para garantir a aprendizagem e não pode ser descartada, principalmente no ambiente da Internet, onde se tem todas as facilidades para ser implementada.
Mas o principal cuidado que devemos ter é o de evitar o excesso de superficialidade na disseminação do conhecimento. Numa sociedade pressionada pelo tempo, acostumada ao fast food e ao macarrão instantâneo, corremos o risco de nos deixarmos seduzir também pela fast school.
O filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella, de maneira brilhante, rejeita a “despamonhalização” da vida. Em seu entender, a despeito de todas as praticidades do mundo moderno, devemos valorizar a longa, trabalhosa e solidária preparação da pamonha. Traduzindo: em nome do que é mais prático, muitas vezes abrimos mão do que é mais importante. Os goianos, como eu, sabem exatamente o que acontece no dia de fazer pamonha: juntam-se família e amigos, cada um com sua incumbência, com atividades durante todo o dia (colher o milho, tirar a palha, limpar a espiga, ralar, temperar, colocar na palha preparada, cozinhar...).  Mas o objetivo não era apenas o de comer a pamonha. O principal objetivo era conviver momentos agradáveis, durante a execução de um trabalho solidário.
Com maestria, o filósofo aborda uma questão crucial da vida moderna: não podemos deixar que o imediatismo impeça que façamos o importante. A rapidez não pode se transformar em pressa.
E isto cai como uma luva, quando o assunto é educação: o mundo atual exige rapidez e praticidade. Mas o processo ensino/aprendizagem tem o seu tempo e suas necessidades.
Não basta apenas assistir uma aula agradável pela internet. É preciso ter disponível uma estrutura adequada, com professores capacitados que, mais do que facilitar a aprendizagem, desenvolva a capacidade de indagar, de analisar criticamente, de raciocinar e, principalmente, de conviver.
Êh saudade da pamonha goiana...!!!










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