Mais um fenômeno propiciado pela rede
mundial. A sensação do momento na Internet chama-se Salman Khan, um matemático
e engenheiro eletricista de apenas 35 anos, que está “revolucionando” a
educação através da produção de vídeos com aulas expositivas,
disponibilizando-os de graça pelo site WWW.khanacademy.org.
Por suas aulas virtuais já passaram mais de 4
milhões de alunos que assistiram mais de 115 milhões de lições, contidas em
2700 vídeos, abordando mais de quarenta áreas do conhecimento. E sua meta é prá
lá de ousada: pretende cobrir todos os assuntos, sempre de graça.
Pessoas e instituições do mundo inteiro estão
aderindo ao “método Khan”. No Brasil as aulas estão sendo traduzidas para o
português pela Fundação Lemann e disponibilizadas no Site WWW.fundacaolemann.org.br/khanportugues.
Mas, qual é o segredo de tanto sucesso? Qual
a fórmula encontrada por este americano que está atraindo os jovens para uma
prática que geralmente eles costumam ser resistentes?
Ainda sem emitir nenhum juízo de valor, posso
dizer que os principais aspectos atrativos de suas aulas são a simplicidade da
abordagem, o bom humor na apresentação e uma linguagem acessível com exemplos
do dia-a-dia. Através deste verdadeiro ovo de Colombo, Khan sai da mesmice e
diminui a chatice das aulas.
Agora já dando os meus pitacos, entendo que
tudo que vem em busca de inovação e oxigenação da área Educacional é sempre bem
vindo, desde que atenda as necessidades mínimas de aprendizagem. Vejo com muito
bons olhos a simplificação de assuntos áridos, deixando os estudos com maior
profundidade para quem for se especializar. Mas não podemos deixar de levar em
consideração que um dos objetivos principais do processo ensino/aprendizagem é de
desenvolver o raciocínio.
Aí vejo dois aspectos nesta nova proposta: um
positivo e outro negativo. O positivo é que, facilitando o entendimento dos
conhecimentos básicos, fica também mais fácil associá-los à realidade e à
prática cotidiana, propiciando uma maior absorção do conhecimento.
Já como aspecto negativo, destaco a falta de
interação com o professor, repetindo e eternizando a prática unidirecional das
aulas expositivas. A interatividade, na minha
opinião, é uma arma poderosa para garantir a aprendizagem e não pode ser
descartada, principalmente no ambiente da Internet, onde se tem todas as
facilidades para ser implementada.
Mas o principal cuidado que devemos ter é o
de evitar o excesso de superficialidade na disseminação do conhecimento. Numa
sociedade pressionada pelo tempo, acostumada ao fast food e ao macarrão instantâneo, corremos o risco de nos deixarmos
seduzir também pela fast school.
O filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella,
de maneira brilhante, rejeita a “despamonhalização” da vida. Em seu entender, a
despeito de todas as praticidades do mundo moderno, devemos valorizar a longa,
trabalhosa e solidária preparação da pamonha. Traduzindo: em nome do que é mais
prático, muitas vezes abrimos mão do que é mais importante. Os goianos, como
eu, sabem exatamente o que acontece no dia de fazer pamonha: juntam-se família
e amigos, cada um com sua incumbência, com atividades durante todo o dia (colher
o milho, tirar a palha, limpar a espiga, ralar, temperar, colocar na palha
preparada, cozinhar...). Mas o objetivo
não era apenas o de comer a pamonha. O principal objetivo era conviver momentos
agradáveis, durante a execução de um trabalho solidário.
Com maestria, o filósofo aborda uma questão
crucial da vida moderna: não podemos deixar que o imediatismo impeça que
façamos o importante. A rapidez não pode se transformar em pressa.
E isto cai como uma luva, quando o assunto é
educação: o mundo atual exige rapidez e praticidade. Mas o processo
ensino/aprendizagem tem o seu tempo e suas necessidades.
Não basta apenas assistir uma aula agradável
pela internet. É preciso ter disponível uma estrutura adequada, com professores
capacitados que, mais do que facilitar a aprendizagem, desenvolva a capacidade
de indagar, de analisar criticamente, de raciocinar e, principalmente, de
conviver.
Êh saudade da pamonha goiana...!!!
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