Você gastaria suas energias e suas emoções
com algo que na maioria das vezes não lhe agrega valor? Daria apoio, mesmo que indiretamente, a
eventos que não raro se prestam a propiciar manifestações bestiais e agressivas
de verdadeiros marginais? Consideraria ídolos pessoas com comportamento moral
às vezes chocante? Daria alguma parcela
de contribuição para que oportunistas pudessem ganhar poder e dinheiro
desonestamente?
Se você mora no planeta Terra, eu afirmo com
bastante segurança que existe uma grande chance das respostas serem positivas.
Se for brasileiro então, a probabilidade disto acontecer aumenta mais ainda.
Mas como? Por que estou dizendo uma
insanidade desta?
Simplesmente porque estou falando de futebol,
um dos maiores fenômenos socioculturais dos tempos recentes, que atrai e
mobiliza uma grande parcela da humanidade e que, infelizmente, tem gerado todas
as mazelas citadas no início, se transformando num submundo cada vez mais indecoroso.
Mas, apesar de todos os problemas,
continuamos (pelo menos a maioria de nós) apaixonados e muitas vezes agindo de
forma passional e irracional.
O que então provoca esta atração quase que
incontrolável pelo chamado esporte bretão? Que força é esta, capaz de
influenciar e movimentar a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo?
Seria a prática saudável do esporte? Isto os
outros também têm. A competitividade? Outros têm até mais. Os vínculos que
cria, seja praticando, assistindo ou debatendo? Também não é privilégio somente
do futebol.
Nada disto. Em minha modesta opinião, a
principal força do futebol vem das suas próprias características, que facilitam
a interação esporte/sociedade.
Todo
esporte surge da necessidade do ser humano de se divertir, conviver e se
distrair. E, neste contexto, acaba por refletir costumes sociais e culturais.
Com a sua consolidação, acaba por se retroalimentar, influenciando os costumes
sociais.
A meu ver, e sem considerar a sua notória
mercantilização, o esporte que mais propicia esta interação social é o
futebol. Suas regras e objetivos podem
ser alcançados através das mais diferentes táticas e estratégias. E isto
permite diferentes estilos de jogos, atendendo, portanto a diferentes anseios
culturais.
Daí surgiram diversos estilos: futebol arte,
priorizando a habilidade; futebol força, com seu pragmatismo; defensivo e aguerrido; ofensivo e criativo.
Em síntese: com a diversidade de opções de estilos, diferentes culturas puderam
expressar suas características dentro de campo, gerando com isto paixão, emoção, empolgação, expectativa, frustração, dentre outras
reações típicas que geram esta verdadeira comunhão, típica dos torcedores.
Como resultado, é comum constatarmos o
reflexo da torcida no time e vice-versa. A torcida acaba sendo a cara do time e
o time normalmente se torna vencedor quando existe afinidade com a torcida. É
isto que transmite a sensação de pertencimento, de inserção, e que transforma o
futebol num verdadeiro fenômeno mundial.
É claro que poderia abordar diversos aspectos,
também importantes, mas me limitei ao que acho mais determinante e diferencial
em relação aos demais esportes.
Mas independente de qualquer análise ou
opinião, é notório que o futebol está no sangue que corre nas veias da maioria
das pessoas.
E assim como a maioria, eu também tenho
o futebol no sangue. Porém com uma significativa transformação: meus glóbulos
brancos se transformaram em glóbulos pretos que, unidos aos vermelhos, fortalecem
cada vez mais o aguerrido sangue rubronegro .