sábado, 25 de fevereiro de 2012

A ESTATUETA, A CONFORMIDADE E O CONFORMISMO

Acontece amanhã mais uma cerimônia de entrega dos prêmios Oscar do cinema. Um dos filmes que integra a lista dos indicados para concorrer às estatuetas é “O Homem que Mudou o Jogo”. Trata-se de uma história sobre um frustrado ex-jogador de baseball e sua luta para montar uma equipe vencedora, com poucos recursos.

Apesar de não ser um tema inédito no cinema, traz à tona, com outra roupagem, os velhos problemas decorrentes de um orçamento limitado e da consequente necessidade da criatividade. Sem muitas alternativas, o protagonista tenta implementar uma nova estratégia, carregada de incertezas, porém com a esperança de que a quebra de paradigmas ajude a suplantar as forças tradicionais. Evidentemente isto gera tensões nas pessoas envolvidas, que desaprovam a proposta, apesar de pouco fazerem para a solução do problema. Resultado: tensões, brigas de egos, intrigas e tudo aquilo que já conhecemos e que é da natureza do ser humano.

Este filme me remeteu a um tema que impacta em nossa vida pessoal e também na vida profissional: fazer diferente ou fazer mais do mesmo?

Dizem os psicólogos que inconscientemente costumamos usar uma máscara que nos ajuda a parecermos com o modelo que as outras pessoas esperam. É claro que isto facilita a adaptação ao relacionamento social, mas também prejudica nossa individualidade, acabando por incentivar a execução de “mais do mesmo”.

Da mesma forma, este cuidado em estar sempre conforme, faz com que a competição entre as empresas provoque, ao invés de uma diferenciação, uma verdadeira padronização de produtos e serviços. E mais do que esta padronização, gera também um indesejável conformismo.

É preciso praticar o desapego para podermos alcançar o inédito, pressuposto básico da diferenciação, esta sim, propulsora e mantenedora das pessoas e das empresas de sucesso.

Ou então, ser mais um na multidão...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A DOCE ATRAÇÃO DE UM MUNDO INDECOROSO

Você gastaria suas energias e suas emoções com algo que na maioria das vezes não lhe agrega valor?  Daria apoio, mesmo que indiretamente, a eventos que não raro se prestam a propiciar manifestações bestiais e agressivas de verdadeiros marginais? Consideraria ídolos pessoas com comportamento moral às vezes chocante?  Daria alguma parcela de contribuição para que oportunistas pudessem ganhar poder e dinheiro desonestamente?
Se você mora no planeta Terra, eu afirmo com bastante segurança que existe uma grande chance das respostas serem positivas. Se for brasileiro então, a probabilidade disto acontecer aumenta mais ainda.
Mas como? Por que estou dizendo uma insanidade desta?
Simplesmente porque estou falando de futebol, um dos maiores fenômenos socioculturais dos tempos recentes, que atrai e mobiliza uma grande parcela da humanidade e que, infelizmente, tem gerado todas as mazelas citadas no início, se transformando num submundo cada vez mais indecoroso.
Mas, apesar de todos os problemas, continuamos (pelo menos a maioria de nós) apaixonados e muitas vezes agindo de forma passional e irracional.
O que então provoca esta atração quase que incontrolável pelo chamado esporte bretão? Que força é esta, capaz de influenciar e movimentar a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo?
Seria a prática saudável do esporte? Isto os outros também têm. A competitividade? Outros têm até mais. Os vínculos que cria, seja praticando, assistindo ou debatendo? Também não é privilégio somente do futebol.
Nada disto. Em minha modesta opinião, a principal força do futebol vem das suas próprias características, que facilitam a interação esporte/sociedade.
 Todo esporte surge da necessidade do ser humano de se divertir, conviver e se distrair. E, neste contexto, acaba por refletir costumes sociais e culturais. Com a sua consolidação, acaba por se retroalimentar, influenciando os costumes sociais.
A meu ver, e sem considerar a sua notória mercantilização, o esporte que mais propicia esta interação social é o futebol.  Suas regras e objetivos podem ser alcançados através das mais diferentes táticas e estratégias. E isto permite diferentes estilos de jogos, atendendo, portanto a diferentes anseios culturais.
Daí surgiram diversos estilos: futebol arte, priorizando a habilidade; futebol força, com seu pragmatismo;  defensivo e aguerrido; ofensivo e criativo. Em síntese: com a diversidade de opções de estilos, diferentes culturas puderam expressar suas características dentro de campo, gerando com isto paixão, emoção, empolgação, expectativa, frustração, dentre outras reações típicas que geram esta verdadeira comunhão, típica dos torcedores.
Como resultado, é comum constatarmos o reflexo da torcida no time e vice-versa. A torcida acaba sendo a cara do time e o time normalmente se torna vencedor quando existe afinidade com a torcida. É isto que transmite a sensação de pertencimento, de inserção, e que transforma o futebol num verdadeiro fenômeno mundial.
É claro que poderia abordar diversos aspectos, também importantes, mas me limitei ao que acho mais determinante e diferencial em relação aos demais esportes.
Mas independente de qualquer análise ou opinião, é notório que o futebol está no sangue que corre nas veias da maioria das pessoas.
E assim como a maioria, eu também tenho o futebol no sangue. Porém com uma significativa transformação: meus glóbulos brancos se transformaram em glóbulos pretos que, unidos aos vermelhos, fortalecem cada vez mais o aguerrido sangue rubronegro .






sábado, 4 de fevereiro de 2012

EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E PAMONHA

Mais um fenômeno propiciado pela rede mundial. A sensação do momento na Internet chama-se Salman Khan, um matemático e engenheiro eletricista de apenas 35 anos, que está “revolucionando” a educação através da produção de vídeos com aulas expositivas, disponibilizando-os de graça pelo site WWW.khanacademy.org.
Por suas aulas virtuais já passaram mais de 4 milhões de alunos que assistiram mais de 115 milhões de lições, contidas em 2700 vídeos, abordando mais de quarenta áreas do conhecimento. E sua meta é prá lá de ousada: pretende cobrir todos os assuntos, sempre de graça.
Pessoas e instituições do mundo inteiro estão aderindo ao “método Khan”. No Brasil as aulas estão sendo traduzidas para o português pela Fundação Lemann e disponibilizadas no Site WWW.fundacaolemann.org.br/khanportugues.
Mas, qual é o segredo de tanto sucesso? Qual a fórmula encontrada por este americano que está atraindo os jovens para uma prática que geralmente eles costumam ser resistentes?
Ainda sem emitir nenhum juízo de valor, posso dizer que os principais aspectos atrativos de suas aulas são a simplicidade da abordagem, o bom humor na apresentação e uma linguagem acessível com exemplos do dia-a-dia. Através deste verdadeiro ovo de Colombo, Khan sai da mesmice e diminui a chatice das aulas.
Agora já dando os meus pitacos, entendo que tudo que vem em busca de inovação e oxigenação da área Educacional é sempre bem vindo, desde que atenda as necessidades mínimas de aprendizagem. Vejo com muito bons olhos a simplificação de assuntos áridos, deixando os estudos com maior profundidade para quem for se especializar. Mas não podemos deixar de levar em consideração que um dos objetivos principais do processo ensino/aprendizagem é de desenvolver o raciocínio.
Aí vejo dois aspectos nesta nova proposta: um positivo e outro negativo. O positivo é que, facilitando o entendimento dos conhecimentos básicos, fica também mais fácil associá-los à realidade e à prática cotidiana, propiciando uma maior absorção do conhecimento.
Já como aspecto negativo, destaco a falta de interação com o professor, repetindo e eternizando a prática unidirecional das aulas expositivas.  A interatividade, na minha opinião, é uma arma poderosa para garantir a aprendizagem e não pode ser descartada, principalmente no ambiente da Internet, onde se tem todas as facilidades para ser implementada.
Mas o principal cuidado que devemos ter é o de evitar o excesso de superficialidade na disseminação do conhecimento. Numa sociedade pressionada pelo tempo, acostumada ao fast food e ao macarrão instantâneo, corremos o risco de nos deixarmos seduzir também pela fast school.
O filósofo brasileiro Mario Sergio Cortella, de maneira brilhante, rejeita a “despamonhalização” da vida. Em seu entender, a despeito de todas as praticidades do mundo moderno, devemos valorizar a longa, trabalhosa e solidária preparação da pamonha. Traduzindo: em nome do que é mais prático, muitas vezes abrimos mão do que é mais importante. Os goianos, como eu, sabem exatamente o que acontece no dia de fazer pamonha: juntam-se família e amigos, cada um com sua incumbência, com atividades durante todo o dia (colher o milho, tirar a palha, limpar a espiga, ralar, temperar, colocar na palha preparada, cozinhar...).  Mas o objetivo não era apenas o de comer a pamonha. O principal objetivo era conviver momentos agradáveis, durante a execução de um trabalho solidário.
Com maestria, o filósofo aborda uma questão crucial da vida moderna: não podemos deixar que o imediatismo impeça que façamos o importante. A rapidez não pode se transformar em pressa.
E isto cai como uma luva, quando o assunto é educação: o mundo atual exige rapidez e praticidade. Mas o processo ensino/aprendizagem tem o seu tempo e suas necessidades.
Não basta apenas assistir uma aula agradável pela internet. É preciso ter disponível uma estrutura adequada, com professores capacitados que, mais do que facilitar a aprendizagem, desenvolva a capacidade de indagar, de analisar criticamente, de raciocinar e, principalmente, de conviver.
Êh saudade da pamonha goiana...!!!