quarta-feira, 18 de maio de 2011

AMIZADE, FILOSOFIA E A FOTO DA SOGRA

Instado em manifestar minha opinião quanto a possibilidade de existir apenas amizade num relacionamento entre sexos opostos, acabei respondendo, mais em caráter de brincadeira, com a seguinte frase: “você conhece alguém que anda com a foto da sogra dentro da carteira? Deve existir, mas eu nunca vi...”. Da mesma forma...
Deixando de lado os estereótipos e os preconceitos, resolvi aprofundar um pouco mais neste tema.
Primeiro é preciso definir o que é “Amizade”. Esta é a primeira dificuldade, não só pela subjetividade deste conceito, mas principalmente por ser algo mais fácil de se viver, sentir e experimentar, do que ser traduzido em palavras.
Mas em todo caso, voltei aos tempos de Aristóteles.
Segundo o Filósofo, existem três espécies de amizades:  1) a amizade segundo o prazer, 2) a amizade segundo a utilidade e 3) a amizade segundo a virtude, ou a amizade perfeita.
Ainda segundo Aristóteles, a amizade pelo prazer, decorre do fato de se achar algo agradável, um no outro. Podem ser a beleza, o bom humor, ser espirituoso, etc. Neste caso a amizade não se dá  por causa do caráter de cada um, mas sim devido ao prazer que podem proporcionar. 
Já a amizade segundo a utilidade, seria estabelecida pelo bem que uma pessoa pode receber da outra. Da mesma forma o aspecto principal não é o caráter, mas sim uma utilidade recíproca.
A terceira espécie, a amizade segundo a virtude, só se estabelece entre as pessoas boas e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um ao outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos. Êta! Amizade difícil esta, hein?
A amizade segundo o prazer e a amizade segundo a utilidade geralmente são mais passageiras, se desfazendo quando a pessoa deixa de ser útil ou agradável.
Porém, a amizade segundo a virtude, ou a amizade perfeita, como a chama Aristóteles, é duradoura pois as pessoas querem o bem uma da outra. Elas buscam verdadeiramente o bem do seu semelhante, e isso pelo simples fato de serem bons.
Nas palavras do filósofo, os homens bons podem estabelecer relações segundo o prazer ou a utilidade, assim como os maus. Mas apenas os bons podem estabelecer uma amizade segundo a virtude.
Então, voltando à pergunta original e considerando os tipos aristotélicos de amizades, caberia sim uma amizade entre pessoas de sexo opostos. Todavia, qual a probabilidade disto se transformar em “algo mais”?
A maioria das definições atuais traz o conceito de amizade como sendo uma relação afetiva, a princípio, sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas. Isto é possível?
A maioria das pessoas que manifestam sobre o assunto entende que um relacionamento próximo entre pessoas de sexo opostos, que envolve conhecimento e afeição, tem um potencial grande para se tornar atração.
Não é raro encontrarmos artigos afirmando que o homem, pela própria natureza e principalmente pela cultura, dificilmente deixará de pelo menos pensar em algo mais. A mulher, talvez em menor grau, e principalmente em momentos de fragilidade, também não passaria imune ao “ombro amigo”.
Todavia, em minha opinião, qualquer comportamento que ultrapasse os limites de uma boa amizade só ocorrerá pela vontade dos envolvidos. Desta forma é possível manter o status quo de amigos, mesmo que eventualmente ocorra uma atração. Basta ter vontade e respeito por si mesmo e por terceiros envolvidos.
Fácil? Sei não...! Parece ser mais difícil do que se pensa.
Então só me resta repetir a pergunta do início: você já viu alguém com a fotografia da sogra na carteira? Deve existir, porém eu nunca ví...!!!

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