Quando
se esperava que a “tragédia” decorrente da corrupção cedesse
espaço para uma nova era de crescimento econômico e desenvolvimento
social, somos assolados por enchentes, deslizamentos, rompimento de
barragem, incêndios, assassinatos em escola, sem falar em outras
tragédias menos divulgadas, que causaram a morte de centenas de
pessoas e o desespero de amigos e familiares das vítimas.
O
que está acontecendo? É um castigo divino? É consequência da
irresponsabilidade de políticos, governantes e empresários? Ou será
mera coincidência?
Ora,
direis, não existem coincidências!
Mas
existem utopias a serem perseguidas!
Eu
poderia, neste momento, buscar o caminho mais fácil para trilhar,
qual seja, criticar as pessoas que deveriam ter tomado as
providências necessárias para evitar tais tragédias.
É
claro que os responsáveis diretos pelas ações ou omissões que
provocaram as tragédias, têm suas culpas específicas.
Mas,
será que são os únicos culpados?
Não
acho!
Enxergo,
com uma sensação cada vez maior de impotência, que a vida em
sociedade tem se degradado sobremaneira, fato que pode nos
transformar, de certa forma, em cúmplices das mazelas.
Nas
conversas rotineiras, percebe-se claramente que as pessoas se
posicionam como exemplos pessoais de virtudes, colocando na conta dos
outros os erros.
Como
dizia Nietzsche: “o homem é antes de tudo um animal que julga”.
E o faz com uma convicção que elimina qualquer margem de erro. Mas,
assombrai! Ele erra.
Será
que o excesso de competitividade, o excesso de individualismo e a
constante redução da importância da ética, praticadas
rotineiramente, não têm contribuído para a criação de
“monstros”?
O
que dizer da enorme desigualdade social, onde cinco por cento da
população é detentora de noventa e cinco por cento da riqueza do
país?
É
difícil admitir, mas nós também podemos ter culpa em tudo que está
acontecendo, na medida em que convivemos pacificamente com todas as
mazelas que sabemos prejudiciais, até incentivando-as em alguns
casos.
Se
tivéssemos a humildade de praticar só as virtudes, certamente as
tragédias seriam reduzidas ou até mesmo eliminadas.
Na
lição do Filósofo Aristóteles, a virtude, derivada da
palavra grega Aretér, designa
toda a excelência própria de uma coisa e nos direciona a agir em
prol do mais alto
bem, distinguindo as ações virtuosas dos vícios. Aristóteles
afirmava ainda que a virtude está na média das
extremidades perniciosas, uma por excesso e a outra por falta.
Para
facilitar tal entendimento, nada melhor que um exemplo: a falta
de coragem, conhecida como covardia, não é uma virtude. Da mesma
forma o excesso de coragem, que se transforma em temeridade, também
não o é.
Segundo
o Filósofo, o fundamental é direcionar a virtude para uma
média que alcance a prática do bem. E isto sempre pode
melhorar, principalmente se priorizarmos menos a defesa das
ideias e mais a sua prática.
Enquanto
não deixarmos de julgar apenas os outros, e, de outro
lado, continuarmos a reverenciar pessoas de sucesso
alcançado por práticas perniciosas e egoístas, fechando
nossos olhos para as injustiças que ocorrem à nossa volta,
continuaremos a viver assombrados com as tragédias, com a violência,
com a ansiedade e com a depressão, esperando que algum
super-herói salve a nossa paz.
Por
onde começar a nossa mudança? Cada pessoa sabe o que
melhor funciona para ela. Todavia, existe um passo a passo
bastante interessante no Livro dos Espíritos, de Allan
Kardec, contido na questão 919. Vale a pena conhecer.
Êta! Eu
e minha propensão a acreditar em utopias! Sorry!