sábado, 18 de fevereiro de 2017

É ASSIM MESMO!

- Môrzão...
- O que foi?
- O que você está pensando?
- Aí, meu Deus! se eu quisesse falar estava falando e não pensando.
- Grosso!
- Mas cê não pode me ver calado que logo quer saber o que tô pensando.
- Se não quer dizer é porque está escondendo algo que não pode me falar. Te conheço...
- Não é nada disto! Apenas não quero falar dos problemas que tive durante o dia.
- Sei não... cê tá estranho. Chegou do trabalho muito calado. Me conte do seu dia.
- Ah, não!! Pior do que "o que você tá pensando" é perguntar "como foi seu dia".
- Mas qual o problema que te impede de conversar?
- Tá bom! Você quer conversar, então vamos conversar. Fala aí.
- Sabe aquela loira que trabalha na sala vizinha à minha?
- Sei.
- Pois é. Hoje cheguei mais cedo e encontrei com a Firmina, aquela faxineira legal que sempre está sorrindo. Sabia que a filha dela está grávida de gêmeos?
- Humm... E a loira?
- Calma! Tô te contando.
- Seja rápida, que tá quase começando o jogo.
- Jogo, jogo... sempre tem um jogo! Fica com esta merda de jogo, que eu não vou conversar mais nada com você.
- Calma, bem! Só estou te pedindo para ser mais objetiva. Continua, vai.
- Então! A Firmina aproveita os finais de semana para trabalhar por conta própria, cozinhando para alguns bacanas.
- Deve ser cansativo. Mas é a luta pela sobrevivência.
- E ela já me mostrou a relação de pratos que podemos encomendar. Vou pedir algo pro final de semana.
- Humm... E a loira?
- Que pressa é essa, cara? Tô tentando te falar, mas você não tem um pingo de paciência para me ouvir.
- Então vai direto ao assunto e fale o que você tem a falar daquela piranha, porra!
- Piranha? Ela já deu em cima de você?
- Ai, Jesus! É você que vive falando que ela é uma piranha.
- Mas você falou com muita certeza. Eu sempre desconfiei que ela te olhava de forma diferente.
- Amorzim! Cê sabe que só tenho olhos pra você.
- Então diz que me ama.
- Te amo muito. Vem cá e me dá um beijo.
- Tá bom... para mô... a varanda tá sem cortina.
- Então vamos pro quarto.
- Uê! Você não queria assistir o jogo?
- Agora não quero mais. Quero é você!
- Ih, mô! Tô com muita dor de cabeça e amanhã tenho de acordar muito cedo. Fica aí assistindo teu jogo, que eu vou dormir.
- Mas você parecia tão bem enquanto falava dos acontecimentos do dia.
-É que falar me alivia. Acho que faz parte da natureza das mulheres. Quanto mais falamos, mais calmas ficamos.
- Deve ser por isto que nunca vi uma mulher gaga.
- Deixa de ser bobo. Vamos fazer o seguinte: no final de semana a gente barbariza, tá certo?
- Enfim... fazer o quê? Meu p... Ops, o pai te ama...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

VERDUGO DE SI MESMO

Num mundo exageradamente consumista, estamos assistindo a um também exagerado crescimento da busca desenfreada por riqueza e pelo poder.
E na esteira disso tudo, crescem também o egoísmo e o individualismo, deslocando os relacionamentos e a amizade para um pragmático círculo de interesses, chamado networking.
Evidentemente, todos nós almejamos uma situação financeira que nos dê tranquilidade, mas o que estamos constatando é a supervalorização dos bens materiais em detrimento aos relacionamentos e ao crescimento espiritual.
Em poucas palavras: o bolso está falando mais alto que o coração.
Mas a busca de nosso bem maior, a felicidade, exige mais do que o dinheiro pode comprar. Exige atenção, carinho, bondade, ternura, generosidade, gratidão, enfim, exige amor. 
E a rotina massacrante em busca de ter, sem cuidados com o ser, está criando uma verdadeira geração de pessoas que vai perdendo pouco a pouco a alegria de viver, chegando até mesmo a morrer em vida, tanto é o medo e a ansiedade para se conseguir sucesso.
Não existe maior empecilho que nós mesmos, para alcançarmos a felicidade. E, na maioria das vezes, ela é decorrente mais da simplicidade do que da sofisticação. Precisamos ter a consciência que estamos no mundo não somente para viver, mas viver servindo ao próximo com amor. Para tanto precisamos resgatar  o prazer de praticar as virtudes, para não corrermos o risco de nos transformarmos em verdugos de nós mesmos.

P.S.: um agradecimento especial à minha nova amiga, a gaúcha Clarice, que me sugeriu a leitura do trecho da Bíblia, Mateus 6, 19-26, e que acabou sendo a fonte de inspiração deste artigo.